domingo, 2 de maio de 2010

AS AVENTURAS AMOROSAS DO WOLLISON - Sabadão na Bete (parte 1)



Texto enviado por Zebedeu


A minha curiosidade para dar risada com tosqueiras sempre me enfiou nas piores roubadas. Era assim com o Sansão e foi assim com o Wollison. Só para esclarecer o que eu acho que ficou um pouco confuso, o nome do Wollison no RG é Wallison, mas ele gosta que falem o nome pronunciado corretamente, ou seja, Wollison. Ele sempre diz que faz “qUestão” (assim mesmo, pronunciando o U). Então, de agora em diante, ele é apenas Wollison. Mas vamos em frente.

Como eu contei no último texto, eu prometi ao Wollison gravar um CD do Pitanga pra ele dar de presente “pra uma mina aí”. Bom, prometi, e cumpri. Puxei alguns vídeos do Youtube, fiz um CD e entreguei pro distinto. Quando eu pensava que tudo estava na mais prazerosa paz, eis que, em uma sexta-feira, numa bela manhã de sol, vejo o distinto no elevador:

- E aê, doutor, vamos lá na Bete, amanhã?

- Bete?

- É. A boate do Itatinga. Eu já falei pra ela que eu vou por o senhor pra dentro.

- Ah, no Itatinga. É que eu estou sem carro. Emprestei pro meu irmão (era verdade).

- Num tem “poblema”. Vamos com o meu. Faço qUestão. Amanhã, sabadão, eu tenho que levar a Cleide (a secretária do Dog Club) na casa da mãe dela, e depois eu passo na sua casa e aí nós vam’ pra farra. Héhé. Aê, hein, doutor? Itatingão. Bora nessa. Tô com tanto tesão que vou virar a Bete no avesso.

Eu nunca fui muito chegado em zona (imagina se fosse), e quando eu curto a coisa, só vou em puteiro de elite para pegar papa fina. Se é pra gastar dinheiro, não coloco meu amigão pra encarar coisa feia. Mas o Itatinga pra mim seria uma experiência nova e aí é que sempre entra areia na minha parada. Quando eu sou apresentado para uma situação de tosqueira, eu sempre penso: “bom, não custa nada e até que pode ser divertido”. E, neste caso, pensei mais: “ Wollison na tal boate da Bete? Essa eu pago pra ver”. E topei, sem saber, afinal, qual era a porra do carro que ele tinha.

Pois dito e feito. No dia seguinte, sábado, lá pelas sete e meia da noite, o cara me aparece em casa com “o carro” dele: uma Belina 1984. Não dava pra saber onde começava a ferrugem e onde terminava o carro. Ou o contrário. Olhando de perto, deu pra sacar que era cor de laranja. Tinha capa felpuda rosa nos assentos, uma caveirinha balançando pendurada no retrovisor interno, distintivo do Bahia no vidro de trás, faróis desregulados (um apontava pro Cristo Redentor e o outro pro inferno), e uma lanterna traseira queimada. Em cima, uma escada de pintor, amarrada. Quando eu cheguei perto eu senti o cheiro de pingarro (pinga mais cigarro) que saía de dentro do automóvel, onde, no banco do carona, estava a Cleide e o cachorrinho dela, que fazia um escândalo desgraçado:

- Rrrrrrrr... iu iuiuiuiuiuiu iuiuiuiuiu!!!

- Doutor, olha só a caranga que eu descolei semana passada. Comprei baratinho de um chegado aí. Agora posso carregar as minhas “ferramenta” de trabalho.

De fato, ele faz bicos de fim de semana. Sabe de tudo um pouco e se vira.

- Entra aí que eu só vou levar a Cleide e o Brutus pra casa e nós já vamos pra obra.

- Obra?

- É. Aquela que o senhor me falou que tá com “poblema”, que eu vou ter que verificar o encanamento e o eletricismo.

Ele piscava um olho pra mim, desesperado. Confirmei.

- Ah, é. A obra.

O cachorrinho continuava fazendo escândalo.

- Iuiu iuiuiuiuiuiu iuiu iu!!!

Tive que tomar cuidado pra entrar no carro senão ele me mordia a bunda. E a Cleide:

- Ai, não sei mais o que fazer com o Brutus. Ele é tão genioso! Pára fofo!

No trajeto rápido entre a minha casa e o centro da cidade (onde a Cleide mora), ela foi dando o ar da graça de sua personalidade:

- Doutor, eu e o Wallison estamos quase marcando a data do casamento. O senhor já está convidado. Né, amor?

A Cleide deu um sorrisinho sinistro:

- Eu vivo falando pro Wal que se ele furar comigo eu mato ele com um picador de gelo, que nem eu vi num filme. Né, Wal?

Eu estava sentado no banco de trás e o Wollison olhava pra mim pelo retrovisor, fazendo cara de cagaço.

Depois de rodar um pouquinho, deixamos a Cleide na casa dela, no centro da cidade. Quando ela desceu do carro o cachorrinho ainda rosnava e esperneava. Passei para o banco da frente e finalmente tomamos o rumo da Rodovia Santos Dumont, a que dá acesso ao Aeroporto de Viracopos e ao itatinga. Wollison se abriu comigo:

- Doutor, o senhor viu a minha situação? A mina é “piscopata”. E o cachorrinho? Ele não me topa nem fodendo. É só eu chegar no apê da mina que ele avança no meu tornozelo. Já comprei até casinha de madeira e almofada pro morfético, mas não adianta. Ele não vai com a minha cara. Qualquer hora eu explodo, doutor. E aí eu vou afogar aquele filhodaputa no meu copo de pinga e...

- Tá, tá, agora toma cuidado aí que a Santos Dumont à noite é perigosa!

E fomos pro Itatinga. Meu Deus, aonde eu fui me enfiar.


*BÔNUS: Pitanga - O fio de penteio