Texto enviado por Zebedeu
Sei lá eu o porquê, mas o Aguinaldo afinou e o Bola acabou indo pra Floripa com a gente. A viagem pela Caprioli, que saiu às dez da noite de Campinas, em um daqueles ônibus bonitões, de dois andares, duraria a noite toda e, como sempre acontece nestes grupos, serve para o pessoal se conhecer e fazer amizade. Notei um grupo de mais ou menos trinta pessoas, com mais de quinze garotas desacompanhadas, todas a fim de alguma coisa. Isso deixava o Sansão e o Bola ouriçados. Eles ficavam andando pelo ônibus, encarando a mulherada, subindo e descendo a escada, pegando cerveja e fazendo gracinhas que só tinham graça pra eles mesmo. Uma das gracinhas mais manjadas era cantar a musiquinha:
- Olêêê, olááá (PUM PUM PUM – eles batiam a mão no teto do ônibus), o motorista tá botando pra quebrar...
Ou então quando o Sansão imitava o Silvio Santos:
- Rá raiiii, minhas colegas de trabalho, o Aguinaldo tem cu peludo ou não tem??
Algumas perversinhas da farmácia da PUC respondiam:
- Teeeeemmm!
Se o Sansão já é chato sozinho, imagina aí com outro chato amigo do lado. Só podia dar nisso. E os dois, sentados no fundão, foram bebendo a viagem toda. Eu, mais ou menos no meio do ônibus, ia na boa, como sempre, e passei um tempão conversando com umas minas, mas notei que o Sansão e o Bola estavam numas de frescura com uma garota bem ajeitadinha, a Angela, no escurinho do fundão do ônibus. A Angela, vim a saber depois, era mais maluca do que os dois juntos. Às vezes, dava para escutar as risadinhas:
- Hihihiii, ai, pára, hihihihihiiii...
Lá pelo meio da madrugada (a viagem dura a noite toda, como eu já disse), o Bola chegou perto de mim:
- Velho, pelo jeito o Aguinaldo vai te colocar no mesmo chalé que eu e o Sansa, então a parada é a seguinte: já armei com a Angela, xerto? Lá no fundão do ônibus já mostrei pra ela a minha coleção de revistinhas de BDSM gang bang com bukake e ela topou fazer iguals. Então a parada é a seguinte, mermão, tú tem duas opição (os erros gramaticais e de concordância são dele): ou tu sai fora na hora e vai assistir televisão no hall da pousada, ou mete um daqueles seus tenisinhos frescos e vai fazer cooper, que você gosta dessas viadagens, ou, segunda opição, fica quieto e participa, xerto?
- Comé qui é? E o Sansão?
- Apagou. Tá com o fone de ouvido curtindo Judas Priest.
- Não, não, tô perguntando o que ele achou disso.
Bola abriu um sorrisinho canalha:
- Porra, cara, precisa perguntar? O Sansa é dos meus, amizade. Ele tá completamente na parada. Nós vamos dar uma lição de vara naquela penosa, héhéhéhé... (risinho de tarado).
- Sei.
Esfreguei as mãos na testa e resmunguei baixinho " putaquipariu, só me faltava essa". E a viagem continuou na boa. Mas nesse passeio percebi que o Bola é mesmo um cara perturbado e não fala de outra coisa a não ser em sexo. Da boca de esgoto dele só sai sacanagem, 24 horas por dia. O Sansão me disse uma vez que deu o e-mail pra ele e, em apenas um dia, numa única manhã, ele passou noventa e cinco mensagens com pornografia. Na rua, é ver passar mulher que ele dá aquela sopradinha pra dentro:
- Ssssssss, olha, olha, náááássa!
Esclareço que para estes assuntos de sexo até que o Sansão nem é dos piores, mas com o estímulo de um celerado habitual, a gota derrama do copo. Depois de tudo, chegamos em Canasvieirias de manhãzinha e nos ajeitamos na pousada, um lugarzinho bacana, todo gramado, com chalezinhos assobradados, um do lado do outro. Canasvieiras, pra quem não sabe, é um distrito bonito de Floripa, tem uma praia própria e fica perto de todos os agitos. Nessa hora, o que deu gosto de ver foi a cara do Seu Barzani, quando viu o Bola.
- Pôôra, Aguinardo, catzo, você mi trôsse esse merda imbecile de novo? Io non falei qui era pra você non mi trazê mais esse stronsso na minha posada?
Aguinaldo, meio sem jeito, passou mais de meia hora tentando convercer o Seu Barzani a deixar passar mais essa, jurando que nada aconteceria. Segundo já era esperado, caiu-me dos céus a desgraça de compartilhar um chalé triplo com o Sansão e o Bola. Como o feriado era de quatro dias, os três primeiros foram uma beleza. Não tenho queixas de nada. Sansão e Bola se comportaram até que bem, excetuando-se o de sempre, a que eu já estou acostumado, como bebedeiras, barulho e os olhares vesgos de tara do Bola pra cima de tudo quanto é mulher. Sem contar o desfile diário e constrangedor do Bola em mini sunga e o Sansão pelado, os dois pra lá e pra cá, no chalé. Mas tudo bem. Até aí, passa. É só não chegar perto.
Na praia, nos agitos, na pousada, tudo transcorreu normalmente. Estranhei apenas alguns olhares entre o Bola e o Sansão. E teve até um dia em que ouvi o Bola dizer:
- É hoje, cara. É hoje. Tô na fissura. Sai da minha frente!
E o Sansão:
- Caaalma, não vai estragar, caralho! A coisa tá no papo.
Fora isso, tudo normal. Eu curti o feriado relaxado e aproveitei para emendar uma ficadinha com a garota que eu conheci no ônibus, achando que aquela coisa de suruba não passava de uma alucinação da mente doentia do Bola. Mas (e quando a coisa envolve o Bola e o Sansão sempre tem um "mas") na noite do terceiro para o quarto dia eu estava me aprontando para sair quando ouvi baterem na porta do chalé. Quase todo mundo já havia se mandado e a pousada estava vazia. Fui atender. Era a Angela:
- Oi, Zeba. O Sansa e o Bola estão?
- Estão. Entra.
A vaquinha estava cheirosa, de cabelinho molhado, com um shortinho bem convidativo e curto, daqueles tipos que atocham no rego, com uma camisa amarrada nos seios e sem sutiã. E agora, amigos, preparem-se que daqui para a frente serão cenas dignas do melhor cinema pornô nacional. Sou até um cara sério, mas não sou santo, de modo que adiei a saída para ver no que dava a coisa. Bola e Sansão saíram do quarto já pelados. A garota deu um gritinho de satisfação:
- Aahhhiiii...
É, meus amigos do Bigotron, esses são daqueles momentos na vida que todos passamos, onde precisamos decidir rápido: fica ou vai. Eu fiquei. Putz.
Continua...