segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SANSÃO E ANABELI – um romance inesquecível (parte 1)




Texto enviado por Zebedeu


Devido as minhas colaborações anteriores aqui no Bigo, creio que as apresentações do Sansão já estão desnecessárias. Mas reiteremos o básico: um elemento de 49 quilos e 1,60m de testosterona no saco (que sobe até a orelha) mais adrenalina fervendo no sangue, miniatura misturada de Zé do Caixão e Alexandre Frota com Dercy Gonçalves. Um FDP campeão em arrumar treta e me colocar no mico. Dito isto, vamos ao relato de um romance inesquecível: Sansão e Anabeli.

Tudo começou quando eu notei que alguma coisa estava acontecendo com o Sansão. Ele andava estranho e meio sumido. Só aparecia de vez em quando. Uma noite eu liguei pra casa dele:

- Sansa, e aí fera? Seguinte, fui convidado pra uma festa no apê de umas perversinhas, no Cambuí [o bairro dos barzinhos aqui de Campinas]. Pessoal da enfermagem da PUC. Sabe quem vai? A Angela, cara. Aquela baixinha jeitosinha da suruba gangbang do carnaval de Floripa [e isso rende outra história, mas fica pra depois]. Vai ou não vai?

Primeiro um silêncio, depois veio a vozinha com ar de cu doce:

- Hmmmm...nããão. Hoje não. Festa da enfermagem só dá viado.
- É? Seu tonto, sua besta, vinte por cento de viados, setenta e oito por cento de mulher e dois por cento de homem, ou seja, os dois por cento somos eu e você.
- Hmmmm, nããão. Hoje não! E além de tudo, como eu NÃO sou baixinho, eu NÃO gosto de mulher baixinha.
- Putz. Falou véio. Vai à merda, então!

Estranho. Muito estranho. O Sansão rejeitar suruba e festa de galinhagem? Mas tudo culminou mesmo no dia em que ele descartou uma baita mulher ótima, a Marisinha, que tinha sobrado pra ele na balada (ele é nanico mas até que tem uma certa pinta - e sorte), e eu dei uma dura:

- Seu mau elemento, tu virou viado? Tá dando a bunda? Como é que você me esnoba a Marisa, bicho?

Ele se revelou, com um carinha de poodle de madame:

- Cara, estou apaixonado. Não posso trair. Não posso! Caralho, eu não mereço isso!

E ficava se dando tapas na cara.

- Eu não presto! Eu não presto!
[Eu, assustado] - Que?
- Zeba, me ajuda. Estou apaixonado. Estou amando e não consigo trair!

E levantava os bracinhos pra cima, como se quisesse falar com Deus:

- Oh, Senhor, oh Jesus, que qui eu vou fazer?!
[Eu, bronqueado] - Larga de xaropada, rapá. Desde quando tú é religioso? Quem é a infeliz?
- A Anabeli, o biscoitinho, o frufrú mais lindo do mundo.
- Que? Aquela irmã do Tacoleta?
- É.

Bom, só podia ser. Como eu conhecia o gosto do camarada, não estranhei quando ele se confessou apaixonado pela monstrenga de 1,87m que, apesar do nomezinho simpático, era uma mocreia sem educação, irmã de um cara da nossa rodinha (o Tacoleta). Vocês aí conhecem alguma mulher baixaria? Pois multipliquem por dez e ainda vai faltar um pouquinho pra chegar na Anabeli. A mina era de dar medo. Feiosa, grandona e invocada. Palavras e expressões como “caralho”, ou “cu da mãe” para ela eram mato durante um papo. Sem contar os xingamentos. Por qualquer coisinha lá vinha um “vai lamber a buceta da tua mãe”, ou “vai te fuder que eu enfio isso no seu cu” (geralmente uma garrafa), entre outras merdas piores, tudo dito com um vozeirão grosso. E a mão da fulana? Cara, parecia uma raquete de tênis. O visual fofo era o seguinte, sem mudar nunca: cabelo curto, calça jeans, camisa xadrez de mangas curtas e coturno. O relógio era um skydiver antigo, um boletão do tamanho de um despertador. Como ela era a verdadeira encarnação da baixaria, a verdade é que, antes dela namorar o Sansão, eu sempre fiquei meio longe dela porque ela arrumava treta adoidado. Uma vez ela deu um pé de ouvido no garçom de uma boate que o cara deve estar vesgo e com o pavilhão auricular zumbindo até hoje.

Era essa, meus amigos, a musa do Sansão, ou, como disse Machado em Brás Cubas, “crê-los-ei pósteros? essa era Marcela” (no caso, Anabeli). E essa era, portanto, a razão da esquisitice do rapaz. A paixão! E o cara, caído de amores confessos por uma figura inumana pior do que o monstro marinho de Victor Hugo (vide Os Trabalhadores do Mar), acabou mesmo por sumir de uma vez por alguns meses. E eu, por conta disso, passei a ficar mais tranquilo, pensando que estava finalmente livre dos micos e das buchas de canhão que ele me aprontava. Mas, e toda história tem um MAS, a minha alegria, a minha tranquilidade, as minhas doces noites duraram pouco e num sabadão ele reapareceu no City Bar, um botecão famoso da boemia aqui de Campinas, onde a gente se reunia (e eu frequento até hoje). Chegou chorando, com uma carta na mão. Uma carta anônima...

Continua...