Já eram 18:40. Adílson chega na casa de Berinaldo dirigindo a Kombi da prefeitura e, logo atrás dele, um caminhão guincho carregava o Ômega vinho de Berinaldo. Adílson vestia um terno caro e estava com as mãos esfoladas. Berinaldo sai de casa e se espanta com a cena.
- Já chegou?
- É. Taí a porra do seu carro.
- Tá. Mas...onde você achou esse terno? Você não saiu daqui pelado?
- Não interessa.
O motorista do caminhão guincho se aproxima de Adílson.
- E o pagamento, chefe?
- Depois gente acerta. Tu tá me devendo aquela parada. Se vacilar, o pau come.
- [Arregalando os olhos] Tá beleza...
O motorista entra no caminhão e vai embora. Berinaldo continua a conversa:
- Adílson, você vai mesmo continuar dirigindo essa Kombi? É da prefeitura, porra!
- Vô. É grande, cabe muita gente e sempre sonhei em ter uma Kombi. Sonho de menino. Só faltou ser movida a diesel. Adoro diesel!
- E que rolo você fez com o motorista do caminhão?
- Não interessa.
Berinaldo se aproxima do Ômega e verifica se o carro está em boas condições. Aparentemente o carro estava inteiro, mas ele viu algo estranho no banco traseiro.
- Adílson...bicho, o que esse tapete enrolado tá fazendo no meu banco traseiro?
- [Tirando o tapete e levando para a Kombi] Não interessa.
- Tá nervosinho, é?
- Não, tô calmo. Mas aí, teu carro tá inteirão. Agora vê se não me enche o saco até o fim da semana! Aproveita e me passa o endereço daquela macumbeira que você vai. Quero bater um lero com ela.
- Você vai agora?
- É.
- Tem que marcar antes.
- Quem marca visita é mulher em cabelereiro. Sou homem. Passa o endereço dessa porra.
- Caralho...Me passa um papel. Você não vai decorar de cabeça.
- [Pegando papel e caneta na Kombi] Taí.
- [Anotando o endereço] E o que você vai fazer na Dona Vilmara?
- [Olhar furioso] ...
- Tá, "não interessa". Tá bom...
- Tô indo. Fica na miúda.
Adílson entra na Kombi e acelera pela rua cantando pneu.
Três horas mais tarde Adílson chega no terreiro de Dona Vilmara. Era uma casa simples, localizada num bairro pobre. Adílson estava nervoso, pois o endereço era complicado de achar e ele demorou um bocado para chegar até ali. Com o tapete enrolado nos ombros, Adílson entra na casa abrindo a porta com um chute. Ele dá de cara com uma pequena sala de estar, onde várias pessoas aguardavam para serem atendidas por Dona Vilmara.
- [Adílson] AQUI É A CASA DA DONA VALMEIRE?
As pessoas, assustadas, ficam em silêncio. Um senhora de idade bem magrela se aproxima.
- Por favor, fale baixo! Isso aqui é uma casa de santo e a Dona Vilmara está atendendo uma pessoa. Será que você pode esperar? E ninguém aqui quer comprar tapete!
- Não tô vendendo, porra. Onde ela atende?
- Naquela salinha ali. Agora se o senhor puder esperar a gente agradece.
- Diz que é urgente. Fala que sou primo do Berinaldo.
Adílson se senta em uma cadeira de plástico e larga o tapete no chão. As pessoas olhavam pra ele sem entender nada. Duas pessoas ficam com medo e vão embora.
Uns 50 minutos se passam. A senhora magrela chama Adílson para falar com Dona Vilmara. Adílson se levanta e bota o tapete no ombro.
- [Senhora magrela] Olha, a Vilmara disse que vai te atender porque você falou que era urgente. Ela só atende com hora marcada e...
- Me chupa. E vendedor de tapete é o puto do teu pai!
A senhora magrela emudece. Adílson entra na salinha de Dona Vilmara e larga o tapete no chão.
- E aí, Dona Valneide?
- Meu nome é VILMARA. Dona Vilmara.
- Ah, tudo nome de puta! Mas bora ao que interessa.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É? VOCÊ SABE QUEM EU SOU?
- Desce do salto, madame! Peraí...
Adílson se agacha e desenrola o tapete. Ao desenrolá-lo aparece o corpo de uma garota semi-nua com o pescoço quebrado. A garota estava toda roxa.
- Valdira, tive um problema com essa moça ontem. Ela apareceu na minha casa de repente e me assustou. Dei um tapa e ela desmaiou. Mocinha fraca, né?
- [Olho arregalado] Meu filho, essa moça tá morta!
- Que mané morta! Ela só desmaiou. Olha só.
Adílson tira um pêlo do bigode e joga no corpo da garota. Ela treme por uns instantes, começa a babar e depois fica imóvel novamente.
- [Vilmara] O QUE VOCÊ FEZ?!
- Joga o búzio que você vai descobrir. Meu bigode é iluminado.
- [ Jogando os búzios] NÃO É POSSÍVEL! EU NUNCA VI ISSO! EM UM BIGODE?!?
- É. Mas meu bigode não tem força pra acordar a menina. Faz aí qualquer coisa que eu te pago.
- [Olhando para os búzios] Meu filho, v-você...você é uma força ruim!!! Você nem devia pisar no meu terreiro! E...VOCÊ MATOU ESSA MENINA! O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA?
- Sei lá, porra! Deixa de drama e chama uma entidade aê pra levantar a menina. Ela só precisa de um empurrão e tá zerada! Chama qualquer uma.
- Você tá louco?
- Vai fazer ou não vai?
- NÃO TEM COMO! ELA TÁ MORTA! NENHUMA ENTIDADE VAI LEVANTAR UM DEFUNTO!
- Saco. Tá, eu resolvo sozinho isso aqui.
- Vou ligar pra polícia!
- Nem tenta. Mas aí, antes de eu vazar, me faz outro favor.
Adílson tira um volante da loteria e uma caneta.
- Joga os búzios aí e me diz quais números vão cair na Loto. Se eu ganhar eu racho o prêmio contigo.
- Meu filho, você tá me gozando? Não é assim que funciona o búzio! Você tá desrespeitando uma casa de santo, sabia? Nem o caboclo do seu bigode vai te proteger dessa sua grosseria! SAIA DAQUI!
- Porra, mas que casa de santo mais chulé. Tomá no cu...
- SAIA JÁ DAQUI OU EU CHAMO A POLÍCIA!
- Vai chamar porra nenhuma.
Adílson tira um pêlo branco do bigode, dá uma lambida e o joga em cima dos búzios. Os santinhos que estavam em volta começam a pegar fogo. Os búzios saltam fora da mesa como pipoca. A água que estava em um copo começa a ferver. As paredes racham. Adílson enrola a garota no tapete e o coloca nos ombros.
- Dona Valdirene, agora você conversa com ele. Se vira aí. Inté.
- [Com as mãos na cabeça] MEU DEUS! MEU DEUS!!!
Adílson sai calmamente da salinha. A senhora magrela o segura pelo braço.
- O que aconteceu lá dentro? Eu ouvi a Dona Vilmara gritar!
- Aconteceu nada. Olha, eu tô achando esse tapete da sala meio detonado. Quer esse de presente?
- Bom, é...
- [Soltando o tapete no chão] Toma aí! É de vocês. Espera pra desenrolar amanhã. Falou.
Adílson bota a mão no bolso e tira seus cartões xerocados. Ele sai distribuindo para os presentes.
- Rapeize, vendo Maguila Grill e instalo em casa! Também arrumo parte elétrica, lavo sofá e mais um monte de coisa. Guardem meu cartão. Qualquer coisa é só me ligar.
Adílson sai do terreiro e entra na Kombi da prefeitura. De longe dava para ouvir os gritos de Dona Vilmara. Várias pessoas saíam desesperadas do terreiro e corriam pela rua gritando. Adílson liga a Kombi e acelera pela pista.
- Já chegou?
- É. Taí a porra do seu carro.
- Tá. Mas...onde você achou esse terno? Você não saiu daqui pelado?
- Não interessa.
O motorista do caminhão guincho se aproxima de Adílson.
- E o pagamento, chefe?
- Depois gente acerta. Tu tá me devendo aquela parada. Se vacilar, o pau come.
- [Arregalando os olhos] Tá beleza...
O motorista entra no caminhão e vai embora. Berinaldo continua a conversa:
- Adílson, você vai mesmo continuar dirigindo essa Kombi? É da prefeitura, porra!
- Vô. É grande, cabe muita gente e sempre sonhei em ter uma Kombi. Sonho de menino. Só faltou ser movida a diesel. Adoro diesel!
- E que rolo você fez com o motorista do caminhão?
- Não interessa.
Berinaldo se aproxima do Ômega e verifica se o carro está em boas condições. Aparentemente o carro estava inteiro, mas ele viu algo estranho no banco traseiro.
- Adílson...bicho, o que esse tapete enrolado tá fazendo no meu banco traseiro?
- [Tirando o tapete e levando para a Kombi] Não interessa.
- Tá nervosinho, é?
- Não, tô calmo. Mas aí, teu carro tá inteirão. Agora vê se não me enche o saco até o fim da semana! Aproveita e me passa o endereço daquela macumbeira que você vai. Quero bater um lero com ela.
- Você vai agora?
- É.
- Tem que marcar antes.
- Quem marca visita é mulher em cabelereiro. Sou homem. Passa o endereço dessa porra.
- Caralho...Me passa um papel. Você não vai decorar de cabeça.
- [Pegando papel e caneta na Kombi] Taí.
- [Anotando o endereço] E o que você vai fazer na Dona Vilmara?
- [Olhar furioso] ...
- Tá, "não interessa". Tá bom...
- Tô indo. Fica na miúda.
Adílson entra na Kombi e acelera pela rua cantando pneu.
Três horas mais tarde Adílson chega no terreiro de Dona Vilmara. Era uma casa simples, localizada num bairro pobre. Adílson estava nervoso, pois o endereço era complicado de achar e ele demorou um bocado para chegar até ali. Com o tapete enrolado nos ombros, Adílson entra na casa abrindo a porta com um chute. Ele dá de cara com uma pequena sala de estar, onde várias pessoas aguardavam para serem atendidas por Dona Vilmara.
- [Adílson] AQUI É A CASA DA DONA VALMEIRE?
As pessoas, assustadas, ficam em silêncio. Um senhora de idade bem magrela se aproxima.
- Por favor, fale baixo! Isso aqui é uma casa de santo e a Dona Vilmara está atendendo uma pessoa. Será que você pode esperar? E ninguém aqui quer comprar tapete!
- Não tô vendendo, porra. Onde ela atende?
- Naquela salinha ali. Agora se o senhor puder esperar a gente agradece.
- Diz que é urgente. Fala que sou primo do Berinaldo.
Adílson se senta em uma cadeira de plástico e larga o tapete no chão. As pessoas olhavam pra ele sem entender nada. Duas pessoas ficam com medo e vão embora.
Uns 50 minutos se passam. A senhora magrela chama Adílson para falar com Dona Vilmara. Adílson se levanta e bota o tapete no ombro.
- [Senhora magrela] Olha, a Vilmara disse que vai te atender porque você falou que era urgente. Ela só atende com hora marcada e...
- Me chupa. E vendedor de tapete é o puto do teu pai!
A senhora magrela emudece. Adílson entra na salinha de Dona Vilmara e larga o tapete no chão.
- E aí, Dona Valneide?
- Meu nome é VILMARA. Dona Vilmara.
- Ah, tudo nome de puta! Mas bora ao que interessa.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É? VOCÊ SABE QUEM EU SOU?
- Desce do salto, madame! Peraí...
Adílson se agacha e desenrola o tapete. Ao desenrolá-lo aparece o corpo de uma garota semi-nua com o pescoço quebrado. A garota estava toda roxa.
- Valdira, tive um problema com essa moça ontem. Ela apareceu na minha casa de repente e me assustou. Dei um tapa e ela desmaiou. Mocinha fraca, né?
- [Olho arregalado] Meu filho, essa moça tá morta!
- Que mané morta! Ela só desmaiou. Olha só.
Adílson tira um pêlo do bigode e joga no corpo da garota. Ela treme por uns instantes, começa a babar e depois fica imóvel novamente.
- [Vilmara] O QUE VOCÊ FEZ?!
- Joga o búzio que você vai descobrir. Meu bigode é iluminado.
- [ Jogando os búzios] NÃO É POSSÍVEL! EU NUNCA VI ISSO! EM UM BIGODE?!?
- É. Mas meu bigode não tem força pra acordar a menina. Faz aí qualquer coisa que eu te pago.
- [Olhando para os búzios] Meu filho, v-você...você é uma força ruim!!! Você nem devia pisar no meu terreiro! E...VOCÊ MATOU ESSA MENINA! O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA?
- Sei lá, porra! Deixa de drama e chama uma entidade aê pra levantar a menina. Ela só precisa de um empurrão e tá zerada! Chama qualquer uma.
- Você tá louco?
- Vai fazer ou não vai?
- NÃO TEM COMO! ELA TÁ MORTA! NENHUMA ENTIDADE VAI LEVANTAR UM DEFUNTO!
- Saco. Tá, eu resolvo sozinho isso aqui.
- Vou ligar pra polícia!
- Nem tenta. Mas aí, antes de eu vazar, me faz outro favor.
Adílson tira um volante da loteria e uma caneta.
- Joga os búzios aí e me diz quais números vão cair na Loto. Se eu ganhar eu racho o prêmio contigo.
- Meu filho, você tá me gozando? Não é assim que funciona o búzio! Você tá desrespeitando uma casa de santo, sabia? Nem o caboclo do seu bigode vai te proteger dessa sua grosseria! SAIA DAQUI!
- Porra, mas que casa de santo mais chulé. Tomá no cu...
- SAIA JÁ DAQUI OU EU CHAMO A POLÍCIA!
- Vai chamar porra nenhuma.
Adílson tira um pêlo branco do bigode, dá uma lambida e o joga em cima dos búzios. Os santinhos que estavam em volta começam a pegar fogo. Os búzios saltam fora da mesa como pipoca. A água que estava em um copo começa a ferver. As paredes racham. Adílson enrola a garota no tapete e o coloca nos ombros.
- Dona Valdirene, agora você conversa com ele. Se vira aí. Inté.
- [Com as mãos na cabeça] MEU DEUS! MEU DEUS!!!
Adílson sai calmamente da salinha. A senhora magrela o segura pelo braço.
- O que aconteceu lá dentro? Eu ouvi a Dona Vilmara gritar!
- Aconteceu nada. Olha, eu tô achando esse tapete da sala meio detonado. Quer esse de presente?
- Bom, é...
- [Soltando o tapete no chão] Toma aí! É de vocês. Espera pra desenrolar amanhã. Falou.
Adílson bota a mão no bolso e tira seus cartões xerocados. Ele sai distribuindo para os presentes.
- Rapeize, vendo Maguila Grill e instalo em casa! Também arrumo parte elétrica, lavo sofá e mais um monte de coisa. Guardem meu cartão. Qualquer coisa é só me ligar.
Adílson sai do terreiro e entra na Kombi da prefeitura. De longe dava para ouvir os gritos de Dona Vilmara. Várias pessoas saíam desesperadas do terreiro e corriam pela rua gritando. Adílson liga a Kombi e acelera pela pista.
Continua...