terça-feira, 2 de setembro de 2008

Silveirinha, o advogado




Texto enviado por Zebedeu (e baseado em uma história real)



Silveirinha, o advogado, caminhava apressadamente pela praça quando cruzou com uma velha conhecida.

- Silveeeeira, que prazer. Há quanto tempo.

Depois dos beijinhos, ele responde com sua verborragia e sua retórica invejáveis:

- Ôba, e aí?
- Foi bom mesmo encontrar com você, querido. Estou precisando de advogado.
- É?
- Lembra do Edélcio, meu ex-marido?
- Lembro. Um que dava golpe na praça?

E ela, sem graça:

- Hehe. É ele mesmo.
- Quiqui há? Qual o babado?
- Preciso processar aquele canalha. Quero pensão. Para mim e para os filhos.

E o Silveira, já cheirando o mico (coisa comum na advocacia hoje em dia):

- Hmmm, mas o cara sempre foi um duro, não foi?
- Sim, mas parece que agora está ganhando muito bem. Fiquei sabendo que comprou um apartamentão na Bela Cintra.
- Sei. Faz o seguinte. Dá uma passada no meu escritório. Você sabe onde é?
- Sim. Lembro. Naquele prédio velho, ali da frente.
- Sim. Dá uma passada lá e a gente conversa. Leve os documentos das crianças, o endereço dele para citação e tudo. Ah, e se prepare para me deixar mil reais de honorários. No fim, eu pego mais a primeira e a segunda parcelas que ele vier a pagar.
- ÚÚquêêêêêê????
- É, uai. Eu vou trabalhar de graça?
- Pois eu bem que sabia que você não tinha melhorado nada, mesmo, né Silveira? O salafrário de sempre. Igualzinho o Edélcio. Era até amigo dele. Bem que eu sabia. E quer saber? Vou lá na Procuradoria. Vou pegar advogado de graça. Ora essa. Era só o que me faltava!

E sai pisando duro, rosnando a cara feia. Silveirinha ficou parado, no meio da praça, com a cara de besta que Deus lhe deu. Bom, resta dizer que o Silveirinha não pegou a causa. Atravessou a praça e foi direto ao sapateiro, onde deixou seu par de pisantes para trocar a sola.