domingo, 10 de novembro de 2013

Como é bom ser VIDA LOKA



Texto enviado por Asdrubous (colaborador do finado Club Anti-Social)


(VIDA LOKA, mano. Esse é o termo usado por criminosos, delinqüentes ou simpatizantes para descrever a vida que levam, tentando da uma conotação positiva)

Aos treze anos de idade eu era um rapaz tranqüilo, vivia na casa de meus avôs que me criavam muito bem. Todos os dias comia angu com arroz e de sobremesa rolava um pedaço de goiabada.

Logo percebi que precisava de um emprego e, como eu ainda não tinha currículo, saí de porta em porta na comunidade oferecendo meus serviços. Eu fazia de tudo, desde engraxar sapatos, cortar grama até ir entregar correspondências em comunidades mais distantes.

Foi então que conheci o Pezão, um Afro-Descendente de 2 metros de altura, muito gente boa. Ele me ofereceu um trabalho fixo e me pagava por semana. O trabalho era bem simples, fazer uma mistura de ingredientes para aumentar a quantidade de matéria prima a ser vendida.

Eu pegava um tijolo de um quilo de uma substância branca, quebrava tudo e jogava no liquidificador. Depois de transforma isso em um pó eu pegava meio quilo de farinha de trigo e meio quilo de fermento Royal e ia misturando com a ajuda do liquidificador. Fazia esse processo até obter dez quilos de matéria prima e depois separava em quantidades pequenas. Aquilo devia dar um bolo bem bacana, afinal, era farinha, fermento e “açúcar”.

Como eu era muito eficiente e nunca havia provado aquela mistura logo subi de posto dentro da empresa, passei a distribuir no asfalto – esse é o termo que damos ao local de trabalho – para os clientes em potencial. Muitas vezes eram jovens ricos que vinha com seus bonés e tênis de marca fazer a compra da mistura. Muito possivelmente para levar as suas mães e avós para prepararem o lanchinho do final de tarde.

Volta e meia eu tinha que sair correndo da policia, que não deixava a gente vender aquilo na rua sem que pagássemos uma comissão pela venda. Mas o Pezão não queria pagar, então nós apenas corríamos. Alguns eram arrastados pelos policias e geralmente não voltavam mais. Acho que eram recrutados para vender para eles.

Apos muito trabalho mais uma vez eu subi de posição, eu agora trabalho como segurança particular do Pezão, ganhei uma AR-15 e duas PTs 380. Volta e meia tenho que defender o chefe, e isso significa eliminar a concorrência também.

Essa vida foi a que eu escolhi, e são minhas escolhas que definem quem eu sou. Lutei, nunca desisti, nem abandonei. Duvidei, esqueci, me encontrei... não foi atoa que eu descobri meus erros e virtudes. Foi por ter liberdade nas minhas escolhas. Ainda vou viver muitas vidas nesse minha vida, mas felicidade é ser eu mesmo.

Meu nome é Asdrubous e essa é minha vida, esse é meu clube-anti social.