segunda-feira, 8 de abril de 2013

Joaquim, o mente podre



Texto enviado por Zebedeu


Antes de ser advogado, é bom esclarecer, eu fui bancário. Lá pelos idos do fim dos anos 90, eu fazia, além do trabalho habitual de compensação de cheques, alguns cartoons para o jornalzinho do banco. Naquela época eu desenhava, mas hoje não chego nem perto de canetas nanquim. Era coisa bem simples, apenas com algumas críticas políticas e sociais dos fatos da época, porque a linha editorial era bem mansa e não permitia maiores ousadias. Mas foi por isso que, Santa Margarida, eu caí nas graças do Joaquim, um rapaz que trabalhava na mesma agência que eu, aqui no Centro de Campinas. 

Pra falar a verdade e descrever o figura de forma total aos chegados do Bigo, o Joaquim tinha uma deficiência física. Havia tido pólio na infância e ficou com uma perna atrofiada. Quando andava, segurava com a mão o joelho direito. Mas nem por isso era um sujeito pra baixo e com complexos. Ao contrário. Era bem atirado, cara de pau, sorridente, alegre e, Santo Cristo, mais chegado em um puteiro que marinheiro. Nunca vi igual. Sabia tudo do assunto. Sabia onde era bom e onde era ruim. Se você quisesse saber alguma coisa sobre putaria, era só perguntar pro Joaquim que ele dava a dica:

 - Ó, na rua assim, na altura do número tal, tem uma casinha de massagem que é massa... É só falar pra Sheila, lembra desse nome, Sheila, que você me conhece e você vai ter um descontinho joia. 

Bom, mas não foi por causa de puteiro que o Joaquim invocou com a minha cara. Como eu já disse, eu era cartunista do jornalzinho do banco e, certo dia, em uma ensolarada e doce manhã de abril, lá estava eu labutando a compensação de cheques do dia quando senti uma sombra na frente da minha mesa. Era o Joaquim: 

- Cara, seguinte, tenho umas ideias pra cartoon. Mas não é pra esse jornalzinho bunda mole não. É coisa crítica pra VALER. Eu te proponho que agente funde um jornalzinho dos funcionários!

Como eu era realmente interessado no assunto, resolvi dar trela para ver onde a coisa chegava:

- Bacana. Vamos ver. Me encontra na cozinha, na hora do café, e a gente conversa.
- Beleza. 

E naquele mesmo dia, na hora do intervalo, sentamos na mesa redonda da cozinha do banco. O Joaquim: 

- Cara, tenho umas ideias ótimas para cartoon. Você desenha e eu te dou as ideias. Já tenho tudo pronto para o jornalzinho dos funcionários, como o logo e tudo. E não vai ser nada igual aquela merda do sindicato. É coisa pra botar pra foder mesmo! Uma ideia que eu pensei (o Joaquim era daquele tipo de cara que “pensa ideia”) é o seguinte: primeiro quadrinho, uma caricatura do gerente (e ele falou o nome do gerente da agência, que eu, evidentemente, vou preservar) PELADO, de costas, de frente para uma parede. No segundo quadrinho, um pelotão de fuzilamento. 
- Hmmmm...

 Ele continua, animado: 

 - No terceiro quadrinho, o comandante do pelotão grita “fooogo”, e sai um monte de caralhos das armas dos soldados. No último quadrinho, tá o gerente com um monte de caralhos enfiados no cu e gritando ”ai, que morte gostosa!”.
- Cara, what the fuck, meu?! Tu quer me foder aqui no banco? 

Não dei resposta. Nem sim nem não. Mas, depois disso, ele ficou me aporrinhando quase todo dia, me perguntando: 

- E aí, tá valendo o jornal? E o cartoon? Já fez? 

Sem coragem pra falar "não" diretamente, fui enrolando o cara, torcendo para ele esquecer a porra. Depois de um tempo ele, de novo, na frente da minha mesa:

- Cara, pensei outra ideia. Saca só. No primeiro quadrinho, caricatura da Ângela caixa, a morena gostosinha, PELADA, de pernas abertas. No segundo quadrinho, ela grita “Joaquiiiim, enfia fundo”. No terceiro quadrinho aparece a minha caricatura com o pau duro. Um pauzão de 30 cm. 

Perdi um pouco a paciência: 

- Porra, mas onde tá a graça dessa bosta?

Outro dia. Terceira ideia. Primeiro quadrinho, caricatura do vigia do banco, que era um baiano invocado, PELADO, de quatro...Desisti. 

- Joaquim, vaisifudê, cara! Some daqui que eu não vou fazer porra nenhuma. 

Ele ficou magoado uns dias, mas depois de um tempo, quando eu precisei de umas dicas de putaria, ele me respondeu como se nada tivesse acontecido. Mas cartoon com as ideias do Joaquim, nem fudendo.