segunda-feira, 29 de junho de 2009

O trampo do Chupeta

Valdineide style

Texto enviado por Zebedeu


Depois do Sansão (o tampinha de 1,60m e 100º C de testosterona) e do Bola (o especialista PhD em putaria) , aqueles meus dois amigos do City Bar sobre quem já falei por aqui, agora vamos conhecer o Chupeta. Luis Carlos, vulgo Chupeta, que só não é pior do que os outros dois porque tem um espírito mais simpático, gosta de contar piadas e “causos”, o que o aproximou de mim. Mas até aí morreu o Neves, como diz o ditado, porque a simpatia dele é enganosa e o Chupeta também já me colocou em saia justa mais de uma vez, como, por exemplo, quando trabalhou comigo no banco.

Os amigos (encrencas) do City Bar me perseguem. É sina. Karma. Foi só eu passar no concurso para trabalhar em um banco público que o Chupeta também passou. E ficava me cutucando:

- Pô, cara, agora nós vamos trabalhar juntos. Hein? Hein?

Eu respondia com um sorrisinho amarelo:

- Só.

- Agora nós vamos poder jogar bola no clube deles, cara. É legal pra cacete aquele clube. Você conhece? Hein? Hein?

- Não.

Bom, feitos os exames necessários, começamos a trabalhar. Na mesma agência. A central, aqui de Campinas. E foi aí que nós conhecemos o Seu Ladislau, o gerente, um cara sério pra caralho, grau dez da Maçonaria e presidente da liga católica. Não ria nem com cócegas o filho da puta. O cara era foda. No primeiro dia, de manhã cedinho, quando nos apresentamos, assim que ele bateu o olho no Chupeta parece que já mapeou em instantes a personalidade do elemento: “incompetente bunda mole”. E definiu para o Chupeta:

- Você vai ficar na salinha de almoxarifado. Pode subir lá no terceiro andar e conversar com o Ramos, o chefe.

- Mas...mas é que...

- Nem mas nem menos, rapaz. Sobe logo, porra!

E olhou para mim. O olhar dele dava medo:

- E você fica aqui embaixo. Vai fazer ordens de pagamento. Vai até ali naquela mesa à direita e conversa com o Ximbica, o chefe, que ele vai te dar as instruções.

Que sorte a minha. O Ximbica era super gente fina, um cara boa praça e compreensivo. Foi fácil fazer amizade e quando havia poucas ordens de pagamento nós atravessávamos a rua e íamos até o bar do portuga, que ficava em frente (Bar Caravela), para tomar uma birita. Depois voltávamos para o trampo. O Seu Ladislau nem percebia. Ou, se percebia, não falava nada.

Já o Chupeta, coitado, acabou no terceiro andar, em uma salinha pequena e cheia de papéis e formulários do banco que atacavam a alergia dele (e era isso que ele tentara falar para o Seu Ladislau), e ainda por cima tinha um chefinho nojento e chato, o Ramos. Sem contar que o Seu Ladislau não tinha ido com as fuças dele desde o primeiro dia e passava pelo almoxarifado, de manhã, meio que pra conferir a situação:

- E aí, Ramos, tudo em ordem? Como está o moleque? Olho nele. Não fui com a cara desse fanfarrão.

O Ramos, que usava uma peruca idiota, respondia com um sorriso asqueroso:

- Tudo bem, Seu Ladislau. Xá comigo que o moleque vai entrar na linha.

Às vezes o Chupeta me enchia o saco:

- Cara, troca comigo, porra. Fala pro seu Ladislau que você quer ir pro almoxarifado. Hein? Hein?

- Qual é, filho. Nem fodendo.

E assim foi a coisa por alugns meses, dentro de uma certa tranquilidade. Até que a nova mulher do café começou a trabalhar. A Valdineide.

A Valdineide, para ser mais exato, era Valdineide Aparecida dos Santos, alagoana, 45 anos, casada, cinco filhos. O mais velho era um dos vigias do banco. A fulana, além da barriguinha e da dentadura, tinha até netos. Pois bem meus chegados bigotrônicos, não é que o Chupeta “encasquetou” com a mulher? A salinha do café ficava em um cubículo do terceiro andar, bem do lado do almoxarifado. O Chupeta me cutucava na hora do almoço:

- Cara, eu vou faturar aquela mulher. Não “guento” mais.

- Quem?

- A Valdineide do café.

- Ficou maluco?

- Não. Ela me provoca! Quando vai fazer o café, de manhã, fica me olhando. Cara, vou só esperar o momento do Ramos sair e eu ataco. Eu estou ali, como a cobra que espera o momento certo pra dar o bote.

- Sei. Cuidado com o bote aí, porque tem cobra muito maior de olho em você.

- Quem? O Ladislau? Bicho, aquele crentão não vê nada disso. Só vê coisa de trampo.

- Então tá. Mas cuidado. E o Ramos?

- Vou atacar na hora do almoço, quando a sala fica vazia e o Ramos vai pra casa dele almoçar.

- Tá, mas fica esperto.

- É, mas eu preciso da sua ajuda.

Pronto. Fodeu. Eu sabia que em algum momento o meu cu entraria na jogada.

- Qual é, filho. Esquece.

- É rápido, Zeba. É só ficar na porta pra avisar se alguém chega. E naquela hora não tem ninguém por ali. É precaução, porra. Me quebra essa, cara.

- Quanto tempo?

- Uns quinze minutos acho que é o suficiente.

- Ai, ai, ai, ai...

E a coisa ficou marcada para o dia seguinte. Como eu sempre avalio esse tipo de proposta levando em consideração a “minha” diversão, pensei que não custava nada dar um pouco de risada e ver até onde aquela besta do Chupeta ia com essa história. No dia seguinte, na hora do almoço, quando o Ramos saiu, eu fiquei de plantão do lado de fora da sala de almoxarifado. O Chupeta, de dentro da sala, me fez um sinal de “jóia” com o dedo polegar, e eu fechei a porta. Do lado de fora, dava para escutar a conversa entre o Chupeta e a Valdineide:

[Chupeta] – Vai nenem, abre tudo.

[Valdineide, rindo] – Uuii, hihihihi...

Começei a ouvir passos na escada. Porra, quem seria?

[Chupeta] – Chupa, meu amor. Vai.

[Valdineide] – Espera que eu vou tirar a dentadura, que fica mais gostoso.

Os passos começaram a ficar mais próximos, como num filme de Hitchcock. Quem seria? Putaqueupariu.

- Ahii, nenem, vou meter tudo.

- Uuiii...hihihihihi.

Quando os passos chegaram na minha cara eu vi quem era. Sim, meus amigos, ele mesmo, o temido Ladislau, grau dez da Maçonaria e presidente da liga católica.

- O que se passa por aqui?

- Nada, seu Ladislau, só estou esperando o Luis Carlos (verdadeiro nome do Chupeta, lembram?) para irmos almoçar.

Mas o som veio lá de dentro:

[Voz do Chupeta] – Como tu é gostoooosa, sua safada.

[Seu Ladislau, chocado] – O que quié isso? O que se passa aí dentro?

E não foi possível mais segurar a tragédia. E eu nem queria. O Chupeta que se fodesse que eu não iria ficar na frente do Ladislau. Ele abriu a porta e foi aquele choque. O Chupeta, sem as calças, por cima da Valdineide, que estava deitada de costas na mesa do Ramos, sem a calcinha e toda descabelada. No chão, papéis de formulários do banco, espalhados devido as loucuras de amor dos dois.

Resumo da história: O Chupeta só não foi mandado embora, só não levou um pé no cu, porque o emprego naquele banco público (que eu não vou falar qual) era bom e garantido e o seu Ladislau, apesar de tudo, resolveu deixar a coisa pra lá, com um inacreditável sorrisinho no canto da boca, e apenas transferiu a Valdineide para a agência do aeroporto de Viracopos. Hoje eu não trabalho mais no banco porque saí para ser advogado. Tenho saudades. Mas o Chupeta ainda está por lá (infelizmente).