De tanto o Reinaldo implorar, prometer me chupar e até ameaçar me matar com uma mordida fatal no saco, resolvi voltar a escrever neste blog. Eu já havia tentado este retorno outras vezes, mas sempre me faltou ideias, mas então decidi falar de algumas experiências (reais) que tive na vida.
Quem me conhece sabe que eu sou o cara mais azarado do mundo (o segundo, como sempre, é o Rubinho Barrichello). Eu nunca ganhei nem disputa de par ou ímpar. Sorteio só ganho quando é coisa ruim (por exemplo, quem vai limpar o banheiro). Às vezes me sinto judeu: todas as merdas do mundo acontecem comigo.
Hoje em dia não posso reclamar, tenho um emprego dos sonhos que foi conquistado com muita ralação, mas até esse passo, tive empregos idiotas e chefes sádicos. Nesta série de posts não citarei bicos de infância como vender jornal na rua, começarei com o primeiro trabalho que me fez querer matar o meu chefe.
Emprego #01 - A Escola de Inglês
Isso aconteceu durante as férias da faculdade, entre 1997 e 1998. Eu tinha vinte anos e pouca malícia sobre os golpes que hoje são famosos. Durante o período de aulas da faculdade, eu dava aulas particulares de qualquer matéria (menos a porra da Geografia, que eu sempre odiei). O problema era que nas férias, ninguém queria aulas, os burros só estudam quando estão se fudendo e com ameaça séria de reprovação.
Desta forma, eu precisava achar algum emprego que sustentasse as minhas idas quase diárias ao bar. Peguei o jornal em busca de um emprego temporário quando vi um anúncio mais ou menos assim:
"Precisa-se de jovens empreendedores, ambiciosos e que queiram ficar ricos".
Na hora pensei: "Porra, sou eu!"
O lugar era uma escola de inglês, mas nem por um segundo pensei que eles procuravam por professores. Professor não fica rico e se ficar, morre logo em seguida. Fui chamado para a "entrevista" de emprego, que durou não mais que vinte segundos. Pediram para eu esperar na recepção e assim o fiz.
Depois que todos foram entrevistados, o resultado: "Eu havia sido selecionado!" Porra, que foda! Eu havia conseguido um emprego que me tornaria rico! Na hora pensei: "Caralho, a primeira coisa que vou fazer é encomendar um pinto novo, porque o meu eu vou gastar em menos de 1 ano".
Na segunda-feira seguinte eu cheguei para o primeiro dia de treinamento. Detalhe: eu ainda não fazia ideia para o que havia sido contratado. No começo, o cara do treinamento disse que seríamos consultores. Fiquei animado, aquele cargo parecia ser algo bacana. Doce ilusão, mal sabia eu que hoje todo mundo é consultor ou personal, de mecânico à puta de rua. Nunca entendi essa merda direito.
No meio da semana, e do curso, o cargo ganhou um pouco mais de pompa. Agora éramos consultores de pesquisa. Pois foi no último dia daquela merda que descobrimos o que deveríamos fazer. Tínhamos que sair na rua pesquisando as necessidades de consumo das pessoas e assim identificar aquelas poucas privilegiadas que se encaixavam no perfil da escola e poderiam estudar na mesma. O engraçado foi o que nos foi dito depois disso:
- Mas o bom pesquisador consegue encaixar QUALQUER PESSOA no perfil de alunos de nossa escola.
Puta que pariu! Aquilo me lembrou a famosa frase do livro "Revolução dos Bichos" de George Orwell: "Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros". Eu já sabia que tinha entrado em uma roubada, mas já que estava ali, resolvi tentar e ver a merda que ia dar.
O que mais me irrita ao lembrar disso hoje em dia é o fato da própria empresa ter mentido para os funcionários. Empresa que faz isso não tem chance de dar certo. No final, não seríamos pesquisadores ou consultores e sim vendedores.
Porra! Porque as empresa mudam o nome da função vendedor para alguma outra coisa como se isso fosse algo ruim ou ilegal? Um traficante se chamar de "consultor do mercado de risco" ou uma puta ser "personal entertainer" vá lá, mas vendedora da Avon ser "consultora de beleza" e vendedor de cursos ser "pesquisador" é um pouco demais. Qual a porra do caralho do problema de se chamar um vendedor de vendedor?
Na semana seguinte comecei em minha jornada de trabalho. Ganhamos uma pastinha cheia de papeis de pesquisa e dois vale-transportes diários. O trampo era sair a pé, de terno em um calor desértico e parar pessoas para fazer a porra da "pesquisa".
Logo no primeiro dia eu vi que não tinha talento pra coisa. Eu até sou bom em vendas, mas desde que eu acredite no que estou vendendo. Logo na minha primeira quase bem sucedida pesquisa, a mulher me perguntou:
- Mas esse curso é bom mesmo?
- Não, é uma merda. A Senhora deveria se matricular na Cultura Inglesa ou no Thomas Jefferson.
Enfim, depois de muito andar sem vender nada, eu nunca mais apareci naquela porcaria de escola. Entretando, aprendi uma lição: "não existe nada fácil no mundo, se alguém tá comendo, tem outra pessoa dando o cu do outro lado".