segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Wollison na Boate Ranchinho (parte final)



Texto enviado por Zebedeu


Uma morena se aproximou da gente:

- Vocês querem se sentar em uma mesa?

Eu cheguei perto do Wóllison e falei baixinho:

- Bicho, vamos sentar, mas modera na bebida que aqui é tudo caro. Se você consumir vai deixar um tutu lascado aqui. Fica tranqüilo e vai observando a coisa, levando um papinho macio. E, presta atenção, NÃO PEÇA CHAMPANHE e não deixe as meninas pedirem champanhe pra você. As garrafas vêm com pozinho broxante. Pelo menos é o papo que eu sempre escutei.
- Tá.

E já se virou para a moreninha:

- Vamos, meu bem, vamos sentar na mesa.

Eu fui atrás, com a minha modéstia esperta de sempre, tranqüilo, só espreitando o ambiente, dando aquela observada de praxe. Quando a gente sentou na mesa, outras duas garotas, uma loira e outra morena, chegaram e se sentaram. A loira, que tinha uns peitos fenomenais e estava com um vestidinho curto, exibindo um belo par de pernas, apontou pra mim:

- Eu conheço esse aqui. Já veio aqui, né?

Bom, pra encurtar um pouco, vai daí que eu comecei a bater um papo com a loira e esqueci de fiscalizar o Wóllison. De repente aparece o garçom:

- Senhor, aqui estão as duas champanhes.
- Que? Eu não pedi champanhe. Tá louco? Estou só no guaraná, por enquanto.

E foi aí que eu percebi o Wóllison abraçado com as duas morenas, fazendo lesco-lesco. Ele se manifestou:

- Doutor, esse pedido é meu. Fica frio que eu pago. As garotas chamaram. É francesa. Como é que chama mesmo, meu bem? (e fez biquinho) Voulve Cricou? Héhéhé.

Deixei rolar e ficamos batendo papo. Depois que o Wóllison já tinha tomado umas três ou quatro taças de champanhe, ele deu um tapão na mesa que eu até assustei:

- (PÓÓW) Doutor, é o seguinte, eu vou com as duas aqui pro quarto. Já combinei tudo. É hoje que eu tiro a barriga da miséria.

E não adiantou eu tentar alertar. Ele se levantou e saiu abraçado com as garotas. Ele falou quarto, mas lá o babado não é quarto. São chalés. Você sai da boate, caminha por um jardim até chegar nos chalés. Só deu tempo de ver o Wóllison sair caminhando (cambaleando) abraçado com as duas, sumindo na bruma da noite.

Como é de costume nessas situações, eu fiz a minha parte de forma tranqüila. Bati um papinho com a loira, ajeitei preço, fui para o chalé, que tem cama redonda, lençol de cetim e espelho no teto. Foi legal. A guria era um fenômeno, como eu já disse. Aparentando entre vinte e cinco e trinta anos, era bonita, com uns peitos certinhos, tipo pêra, pernas roliças, voz gostosa e papo agradável, sem aquelas baixarias que as garotas de programa costumam dizer. Se você encontrasse com ela fora dali, jamais iria imaginar que ela fazia programas. Paguei a guria e acabei ficando um pouco mais do que o tempo de regra da casa. Quando eu saí percebi que já estava quase amanhecendo. Eu havia perdido a noção do tempo. E, caralho, cadê o Wóllison? Fui até o bar, onde havia um último garçom, com cara de sono:

- Por favor, você por acaso viu o meu amigo? Aquele que estava comigo?
- Ah, você que é o amigo do soneca? Pergunta pra a moça do caixa que ela sabe em que chalé ele está.
- Putaqueupariu!

Perguntei pra mulher do caixa e ela me indicou:

- Chalé cinco.
- Tá.

Fui correndo. Chegando lá, abri a porta e dei de cara com o Wóllison pelado, com a bunda pra cima. As garotas já haviam dado no pé fazia tempo.

- Acórda, porra, vam’bora.

Ele estava com o travesseiro todo babado.

- Hã... hein? O que...

Ele levantou, com cara de boi zebu:

- Cadê o meu dinheiro? (e fez uma carinha de choro) Doutor, eu gastei tudo. Enfiei tudo no cu, doutor. Por favor, não deixa a Cleide saber se não ela me capa.
- Vam’bora fiudumaégua. Cê dormiu, porra.

Esperei meia hora até o cara achar a cueca, calça, camisa e sapatos. Levei ele até o jeep e saímos. Ao passar pelo portão, o segurança deu um sorrisinho suspeito. Passei batido e fui embora. Na estrada eu tentei perguntar o que tinha acontecido:

- Cara, o que foi?
- Nada. Eu não quero falar sobre este assunto. Eu dei três seguidas e apaguei.

Não falou mais nada até o centro. E até hoje ele não fala nada sobre o episódio. Diz que ainda vai voltar no Ranchinho pra “repetir a dose”. Mas, por aquelas coincidências da vida, no meu bairro mora um dos garçons do Ranchinho, que compra cigarros na mesma padaria que eu. E ele me contou tudo. Disse que as meninas largaram o Wóllison na cama porque ele broxou bonito e depois dormiu. Até hoje elas contam a história e dão risada do “soneca”. Teria sido a champanhe? Se foi, eu avisei. Não foi falta de aviso.

E, por fim, se algum expert no assunto puder me esclarecer, eu agradeço. Será mesmo verdade essa história que colocam pozinho broxante em champanhe de puteiro? Quando me atrevo a perguntar para alguns garçons da noite, eles desconversam, ficam ofendidos e me chamam de desconfiado. Essa é uma lenda urbana que eu nunca esclareci. E também nunca tomei champanhe em puteiro.