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Episódio de hoje: Churros matam
Versão brasileira: Viacom Rondônia
As coisas no Morro do Toicinho estavam complicadas. Wilson dava ordens cada vez mais radicais para o morro ser "purificado" por sua "luz". Os pais-de-santo foram expulsos e os terreiros incinerados com óleo diesel. Homens que bebiam aos domingos eram espancados pelos traficantes e quem fosse pego com uma camisinha era amarrado em um poste por 72 horas. "Camisinha impede as crianças de nascerem. Isso é coisa do Demo!", dizia Wilson. Pressionado por vários traficantes, Saddam decidiu que era hora de dar um jeito em Wilson.
Eram 2:20 da madrugada. Saddam e Professor foram escondidos para o Morro do Calango. Eles estavam na luxuosa casa de Cacareco, o temido líder do tráfico no Morro do Calango. Cacareco tinha mais de 600 mortes nas costas, 120 só de policiais. Mesmo paralítico (ele foi baleado na coluna em um confronto com o Exército), ele impunha medo e respeito a todos os outros traficantes da região, inclusive os traficantes do Morro do Toicinho. Cacareco era um cara extremamente violento e imprevisível.
A sala de Cacareco estava cheia de traficantes armados. Saddam cumprimentou os presentes e explicou, com toda a calma, toda a situação do Morro do Toicinho. Falou da "revelação" de Wilson Cristo, suas novas leis e maluquices. Cacareco estava apenas de bermuda em sua cadeira de rodas e ouvia tudo enquanto limpava sua AK-47. Ele não parecia prestar atenção no assunto.
- [Saddam] Bom, é isso. Acho que só você consegue dar um cabo no Wilson, Cacareco. O que você me diz?
- [Longo silêncio]...Que merda, né?
- É..?
- Eu odeio o Abacate. Foda-se se ele quer ser chamado de "Wilson Cristo". Vou continuar chamando de Abacate! Sempre quis matar aquele vagabundo na crueldade, morô? Aquele cara sempre me deu trabalho, mas qual a graça de matar um maluco?
Cacareco se vira e pega no saco de um traficante que está ao seu lado. Ele aperta com força.
- [Cacareco] Vai na cozinha e traz uma cerva pra gente.
- AIIIIIII, a cerva acabou! Só tem Campari! AIIIIIII!!!
- Campari é bebida de puta. Vai na quitanda e traz um engradado. E rápido!
O traficante sai do recinto pegando no saco e mancando. Cacareco pega o fuzil e aponta para janela.
- [Cacareco] Bora ver se eu azeitei direitinho essa porra.
Cacareco mira em um barraco distante. Ele dá um disparo. O tiro acerta o barraco e ouve-se o grito de uma mulher. Os traficantes da sala se olham assustados. Um dos traficantes fica revoltado.
- Cacareco, porra, o senhor vacilou nessa aí!
- Estou testando minha arminha. Qual é o pó?
- Chefia, aquele é MEU BARRACO! Caralho, sempre servi o senhor na moral e tu faz um vacilo desse comigo? Porra, tu deve ter acertado minha mulher! Mas que FILHO DA PUTA!
- [Olhar macabro] ...
- É...desculpa chefia! Estou nervoso! Não queria te xingar! Foi mal, aí!!! Eu arranjo outra mulher, deixa quieto...
Cacareco aponta na direção do traficante reclamão e todos disparam suas armas. O traficante leva uns 70 tiros e cai no chão jorrando sangue para todos os lados. Saddam e Professor suam frio. Cacareco se volta para Saddam.
- Pois então, Saddam, o que tu quer que eu faça?
- [Engolindo seco] Hã, bem...o Wilson quer fazer um showmício na próxima sexta. Vai ter uma apresentação das Crentes do Funk e depois ele disse que vai fazer um "milagre". Ele prometeu pra todo mundo que vai multiplicar pão e leite e distribuir pelo morro.
- Puta que pariu. E como vai ser esse milagre?
- Não sei. Ele disse que é esperar para crer.
- Tá, e daí?
- E daí que o morro inteiro vai estar nesse showmício. Os traficantes vão estar concentrados nesse showmício e a segurança do morro vai estar fraca. Era um bom momento de um ataque de vocês. Mandem o Wilson pra vala que o tráfico na região vai ser todinho de vocês.
- É. Mas o que você ganha com isso?
- Paz! Do jeito que está tá foda.
- Sei. Mas tu é o inimigo, rapá! Tu marca um encontro comigo, fala que o Wilson pirou e entrega tudo de bandeja. Qual é, maluco? Qual é a treta? Quer me comer?
- Eu? Que isso, Cacareco! E-Estou na moral aqui!
Cacareco se vira e pega no saco de outro traficante próximo. Ele aperta o saco com toda a força.
- [Cacareco] Aí, você confia nesse vagabundo?
- AIIII, não sei!!!
- Como não sabe?
- AIIIII, não confio! Não confio! AIIIIIII!!!
- Hum.
Cacareco larga o saco do coitado e dispara um tiro de seu fuzil na direção de um traficante que está na porta. O tiro explode o joelho do rapaz.
- [Cacareco] Aí, rapá, tu confia nesse vagabundo?
- [Segurando o joelho estourado] AHHHHH, NÃO! NÃO! AHHHHHHHH!!!
- Por que, caralho?
- ELE É INIMIGO! INIMIGO!!! AHHHHHHHH!!! AHHHH!!!!
Cacareco se aproxima de Saddam e Professor. Ele encara Saddam com um olhar maligno.
- [Cacareco] É...confio em você. Trato feito. Vou pintar com a turma nesse showmício. Me aguarde.
- Ah, l-legal!
- Eu tava prestando atenção em como os mussum-manos atacam. O lance é fazer atentando, botar bomba. Matar na crocodilagem! Sabe aquele atentado que teve em uma delegacia semana passada?
- Fiquei sabendo. V-Você que armou aquilo?
- Claro! Botei um carrinho de churros lotado de explosivo na entrada da DP. Esperei o delegado sair e "cabum". Bicho foi pro saco! Também matei uma playbozada numa facu que me devia. Foi com um carrinho de pipoca BOMBA. Tô ficando foda nisso, rapá!
- E você vai fazer o mesmo com o Wilson?
- Talvez. Agora cai fora que o tempo de vocês acabou. Inté!
O traficante que foi comprar cerveja aparece na porta com um engradado nas mãos.
- Chefia, só tinha cerva Polar!
- Polar?
Cacareco aponta na direção do traficante e todos disparam. Ele cai no chão com 80 perfurações de bala.
- [Cacareco] Polar? Prefiro beber a água de banho do meu cachorro! [Pegando no saco de um traficante que está ao seu lado] Você gosta de Polar?
- AIIII, é marromeno, chefia!
- [Apertando o saco] Marromeno? Tá doidão?
- AIIIIII, É RUIM! É RUIM!!! AIIIII!!!
Professor cutuca Saddam para ele andar mais depressa.
Continua...